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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Reflexão de cores em um universo só meu

Reflexão de cores em um universo só meu


Lendo o texto “O diálogo entre o pescador e o barqueiro”, de Cristina Sáens Enriquez, impulsionei-me à seguinte reflexão: a vida de um homem é incrível, pois tem um caminho cheio de nuanças, mas insiste em desconhecê-las, e quer pintar seu quadro com uma única cor.

Nas palavras do querido e muito estimado, Saint-Exupéry, "se tu choras por ter perdido o por do sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas". Ora, se há estrelas mis no firmamento, por que o choro? Façamos como o grande visionário Raulzito, “... Seu Moço do disco voador, me leve com você pra onde você for. Ô Seu Moço, mas não me deixe aqui, enquanto eu sei que tem tantas estrelas por aí”.

Seguindo com a reflexão, um trecho de Markus Zusak, veio-me à parede da memória, dizendo: "Primeiro as cores. Depois os humanos. Em geral, é assim que vejo as coisas. Ou, pelo menos, é o que tento". Seríamos mais felizes se víssemos as cores do mundo como humanos e não ao contrário.

Como conclusão desta, nas palavras do grande mestre Vinícius de Moraes, "você que só trabalha pra juntar, diz pra mim, diz pra mim o que é que há... abra os seus braços meu irmão deixa cair, pra que somar se a gente pode dividir... (?)"

Portanto, meus queridos humanos e amigos, eu sigo a filosofia do pescador, tenho mesmo é que ganhar o suficiente para gozar minha vida ao máximo, pois segundo, Ronaldo Dias Domingues, “a felicidade é um trajeto, não um destino. Trabalha como se não necessitasse de dinheiro, ama como se nunca tivessem ferido, dança como se ninguém estivesse a vendo”.

No mais, felizes aqueles que verem a si mesmo como modificador de si mesmo se transformando em um universo só seu. Reflitam estas palavras em seu ser e terá um mundo de cores se transformando a sua frente.

Joélio Santos é compositor, educador, produtor cultural e escritor. Formado em Composição, pela Escola de Música da UFBA, desenvolve pesquisas no mestrado em composição musical, pelo PPGMUS/UFBA. É membro da Câmara Setorial do Conselho Municipal de Cultura de Camaçari-BA.

joeliosantos@gmail.com

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Música nas escolas: uma tentativa em Camaçari.

Segundo Villa-Lobos, compositor e educador brasileiro do século XX, propagado pelas Escolas Públicas o canto orfeônico [1] irradia entusiasmo e alegria nas crianças; desperta na mocidade, a disciplina espontânea, o interesse sadio pela vida, o amor á Pátria e à Humanidade. Ainda afirma também, que os jovens brasileiros têm uma deficiência musical muito grande, mas que são criativos e sensíveis à música.

A pergunta que impulsiona este artigo é: o que está fazendo as crianças e adolescentes de Camaçari? Não se vê mais crianças brincando ou cantando aquelas cantigas de rodas que tanto induziu a geração de hoje à criatividade, sensibilização para a vida e proporcionou uma perspectiva de futuro mais próspera e crítica. Em andanças pelos projetos que se preocupa com o bem estar intelectual de crianças e jovens em Camaçari, percebi que a música é um modificador muito importante na vida delas. Talvez não se consiga obter profissionais da música, mas pelo menos, almeja-se um perfil de cidadão mais consciente amanhã.

Ainda alicerçado sobre as teorias de Villa-Lobos, só a educação resolverá os problemas brasileiros. O canto orfeônico praticado na infância e propagado pelas crianças nos lares dará gerações renovadas na disciplina dos hábitos da vida social, homens e mulheres que saibam pelo bem da terra, cantando trabalhar e por ela, cantando dar a vida. Movido pelo patriotismo, o educador aciona as autoridades da época e inicia uma, até então loucura, que provavelmente o induziria a pensar num Brasil musicalizado, por metro quadrado. Para entender melhor a questão de introdução do ensino de música nas escolas, tomei como base, fatos históricos do Brasil.

Primeira tentativa de introdução do ensino da música nas escolas: Getúlio Vargas (1882-1854), o então presidente do Brasil por quinze anos (1930-1945), que deu cabo a República Velha, destituindo o atual presidente Washington Luis (1869-1957), segundo o escritor e historiador Afonso Arinos, de acordo com o decreto nº 18.890, de 18 de abril de 1931, sobre a reforma do ensino, tornou-se obrigatório o ensino de canto orfeônico nas escolas. Então, o atual Secretário do Departamento de educação da Prefeitura do Distrito Federal, Anísio Teixeira (1900-1971), a frente da Reforma da Instituição Pública no Distrito Federal, entre (1931 e 1935), conta com a parceria do compositor e educador Villa-Lobos para elaborar o curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico, proporcionando ferramentas aos professores das escolas públicas à prática da teoria musical e a técnica dos processos orfeônicos no Brasil. Um dos resultados desta ação se deu em 1933, nas festividades do dia da música, em louvor Santa Cecília, padroeira dos músicos. A Associação Orquestral do Rio de Janeiro, em parceria com o Departamento de Educação da Prefeitura Municipal, Villa-Lobos realiza um concerto envolvendo cerca de 2 mil músicos e 10 mil vozes, um dos maiores feitos do compositor e educador no Brasil.

É hora de acordarmos de verdade e tomarmos uma atitude referente ao ensino de música nas escolas. A música é fundamental para o crescimento das crianças e adolescentes (futuros cidadãos) de nossa cidade (não somente de Camaçari (SEDE), como também, de outras localidades (ORLA e DISTRITOS)). Pensar e agir com as próprias cabeças é fundamental para o crescimento da cidade. Estou em Camaçari, desde 1996, trabalhando com música e preocupado com as crianças e adolescentes que vivem ás margens de “vistas grossas” de todos os gestores que entram e saem desta cidade. Não sei a quem devo dar graças, mas o atual gestor deste “mapa da mina” (BRASIL) veio para decidir.

Com a segunda tentativa de introdução do ensino da música nas escolas. Que foi aprovada, pelo presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, a lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que exige o ensino de música nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil; e as instituições de ensino em educação básica têm até o final de 2011 para incluir em sua grade curricular, o tão esperado, ensino de música nas escolas. No entanto, não se pode vê a música na escola como um formador de músicos preparado para o mercado profissional, mas com o objetivo de proporcionar ferramentas que irão auxiliar a juventude brasileira na sensibilização, criatividade, visão crítica e uma perspectiva de futura mais ampla.

Camaçari já está se mobilizando para que o ensino da música nas escolas municipais de educação básica seja implantado. Mas será que vamos alcançar o êxito devido e esperado? Pergunta está que não me faz calar. Pois, não é somente a escola responsável pela educação de nossos futuros cidadãos, como também: os pais, os gestores de associações e ONG’s, bem como, é claro, a Secretaria de educação do município. Atualmente a cidade administra aproximadamente, cerca de 89 escolas municipais de ensino em educação básicas na SEDE e ORLA. A missão será uma odisséia na busca de parceiros para a realização desse grande projeto: sensibilizar e educar crianças e adolescentes, por intermédio da música.

É claro que Camaçari não conta com nenhum Villa-Lobos, mas conta com capacitados e engajados profissionais, residentes na cidade e que deverão ser aproveitados, para que eles façam parte de um marco histórico em mais um capítulo da cidade de Camaçari. Solicitado pelo então Secretário de Educação do município de Camaçari, Luiz Valter Lima, foi montada uma equipe de profissionais composta de dois Regentes, um educador musical e quatro assistentes, (volto a afirmar: todos munícipes de Camaçari); na dura missão de mobilizar 8 escolas da rede municipal de ensino, com aproximadamente 300 crianças entre 7 e 12 anos, para realizar 12 apresentações natalinas em escolas e praças da cidade, nas festividades de final do ano de 2010.

Agora em 2011, a gestão atual da cidade pretende introduzir o ensino de música nas escolas da rede básica de ensino de Camaçari (SEDE e ORLA), com três ações: ORQUESTRA SINFÔNICA, FANFARRAS e CORAIS DE PEQUENOS CANTORES. É claro que o mais importante não é a formação de profissionais da música, como já foi mencionada acima; e sim, a sensibilização e conscientização dessas crianças e adolescentes que andam a mercê de políticas transigentes, autoritárias e dominadoras, não somente em nossa cidade, como também em outras localidades do Brasil.

No entanto, o que se pretende com essas ações, não é o suficiente diante da magnitude e potencial artístico que tem a cidade, mas é o primeiro passo a ser dado para a introdução do ensino da música nas escolas públicas e privadas de Camaçari. Portanto, a esperança que antes era utópica, passou-se a realidade, e o final do túnel não mais é o final que nunca chega, mas sim, o início de uma nova geração capacitada para pensar a própria existência.

[1]Canto orfeônico é uma fonte de energia cívica vitalizadora e um poderoso fator educacional ocorrido no Brasil nas décadas de 30 e 40, sob a orientação de Heitor Villa-Lobos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Que cultura é esta?

Será que vamos continuar assistindo Camaçari como sendo uma cidade provinciana até quando? Pois é minhas correntes, acordei hoje meio nostálgico e indignado com este descaso ao qual a cultura de nossa cidade vem sendo submetida. Recordando-me dos tempos de festivais de monólogos e festivais pluriculturais que aconteciam no antigo Teatro Magalhães Neto, no final da década de 1990, bem como pelas ruas da cidade e em outras localidades do estado da Bahia, ponho-me a escrever. Quem viveu a época sabe do que estou falando! Até um festival de música já aconteceu em Camaçari, é inacreditável! Mas, se com tão pouco conseguíamos fazer com que os eventos acontecessem na cidade, porque hoje é tão complicado, se somos nós os atuais “gestores” da cidade? No entanto, percebo que a comunidade artística da cidade está se mobilizando e dando uma resposta, ou quem sabe assumindo uma dívida cultural que a gestão municipal tem para com os seus munícipes.
Bom, nem só de recordações viverá o homem, estou falando é do presente, mas como falar do presente sem o passado por perto? Ver músicos tocando em barzinhos da cidade, grupos de teatro lutando pela sobrevivência, poetas com seus escritos engavetados, a cultura popular sendo empurrada com a barriga, sobrevivendo de migalhas que caem da mesa aqui e ali, a exemplo do Boi de Parafuso, do Mandu de Monte Gordo, do Espermacete de Barra do Pojuca, da Chegança de Arembepe, enfim, quantos artistas em nossa terra, não!? Será que santo de casa não vai fazer milagre nesta terra onde derrama leite e mel? Estou mencionado alguns artistas pelo “simples fato” de não termos a semana de cultura mais uma vez em nossa cidade. Será que é muito caro realizar uma semana de cultura com os artistas da terra? Não precisa importar artistas “globais”, pois estes sim cobrarão muito caro, e também não precisamos disso, temos o suficiente para realizar uma feijoada cultural com ingredientes plantados e cultivados no quintal da nossa própria casa.
Posso citar exemplos de festivais que dão valor a prata da casa. O Festival de Laranjeiras é um exemplo vivo, pois vai à sua 35ª edição e que coisa linda, vale à pena conferir. É uma cultura que foi construída de baixo para cima e não de modo inverso. Almejo algo nesse quilate em nossa cidade, pois temos mais que o suficiente para desenvolver um festival de cultura popular em Camaçari, e que vai deixar a metrópole boqueaberta. Temos artistas e grupos artísticos aos borbotões, só falta segundo Paulo Costa Lima, ex-presidente da Fundação Cultural Gregório de Matos de Salvador-BA, “proporcionar palcos para que essas manifestações artísticas emerjam”, e aclamem o potencial da nossa cidade.
Ah, não me venha com esse lenga-lenga de que a SECULT está sem dinheiro para realizar o evento, porque não cola mais. Adoro Chico Buarque quando diz, “hoje você é quem manda falou, tá falado não tem discussão, não”, e que democracia é essa que a gente tem que continuar aceitando o “não” da gestão atual? Já não estamos na repressão política que tínhamos que andar segundo Chico, “falando de lado e olhando pro chão”, chegou à hora de gritar. Como já dizia o nosso querido Gonzaguinha, “Quando eu soltar a minha voz por favor entenda”; e tenho certeza que já está acontecendo com, finalmente, a implantação do conselho Municipal de Cultura, mas que ainda se faz lento, enquanto isso a comunidade artística e a população continuam sedentas e famintas de cultura, salvo algumas doações por parte do Restaurante e Churrascaria Casa de Taipa, que está realizando um trabalho excelente na cidade.
Minhas correntes, lembro-me de quando a gente se juntava para filosofar, falar de cultura, literatura, artes e tocar qualquer instrumento em casa de Caio, na frente da casa de meu pai, (com direito a polícia, por conta dos vizinhos incomodados com o som alto), mas, ainda assim, surgiu daquela pequena manifestação, cabeças que acreditam em uma Camaçari melhor.
Um dia desses, presenciei uma cena belíssima no Restaurante Casa de Taipa, quando o norte americano, James Armistrong, da Penssilvânia, em visita a Camaçari para um workshop na cidade do Saber, tocou em Jam com músicos consideráveis em Camaçari, como Neive – bateria, Nego D’água – percussão, JR – baixo, Jai Dias – guitarra, dentre outros artistas da Cidade, que além de abrilhantar o evento, mostraram que santo de casa faz sim milagre.
Claro que a cidade não está totalmente inerte, pois tem o Padim vô na figura de Enoque Norberto, grande articulador de cultura popular, fazendo o seu trabalho de inclusão social aos jovens adolescentes, como se pode conferir na figura do mais novo cantor intérprete de Camaçari, Alan Brandão, o qual foi aluno do mestre Enoque, que é o autor do hino municipal de Camaçari, (mas, não tem o seu devido reconhecimento, diga-se de passagem); grupos de capoeira que resistem aos trancos e barrancos, na figura de meu amigo e companheiro Caio; e outros mestres de capoeira da cidade, bem como outros grupos, artistas e manifestações culturais sobreviventes na cidade. Enfim, o que precisamos é mostrar que somos capazes de fazer a diferença em nossa terra.
A guisa de conclusão, minhas correntes, o espaço que a gente buscava chegou, então como disse o Geraldo Vandré em plena repressão política, “vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer”, vamos minhas correntes, pois nas palavras de Gonzaguinha e homenageando o meu amigo e companheiro Caio, “eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão”. É hora de nós fazermos algo e mostrar que somos cabeças que pensam e agem, (desordeiros do pensamento), não somente, ficar sentado à mesa de boteco, jogando conversa fora e ficando só o bocal.

Joélio Santos é compositor, arranjador, instrumentista (Clarinete, saxofone e flauta-doce), arte-educador, produtor cultural, professor de música e escritor/poeta. Desenvolve pesquisa no mestrado em composição musical da UFBA. Em 2008, recebeu Menção Honrosa no II Concurso de Composição Ernst Widmer, com a obra “Cirandeiriação com Jaco”, para Duo de Piano e Violão. Em 2009, recebeu o prêmio FUNARTE/XVIII Bienal categoria orquestra, do júri da XVIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro, com a obra “Casa..., magia..., palhaço enfeitiçado”, para orquestra sinfônica. Atualmente estuda, compõe e desenvolve atividades, como professor de música, na cidade de Camaçari-BA.
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